MINT CLICKS | OFF SIGHT: A gente do Mercado do Bolhão

Por si só, o Off Sight já é um poço de novidades. Cada mês traz um novo desafio e as minhas companheiras nunca param de surpreender. No entanto, o Off Sight deste mês traz uma novidade particular: mudamos o tema. Desde Janeiro até agora andamos a fotografar locais abandonados espalhados por Portugal fora. Mas chegamos a Maio e todas nós sentimos que esgotamos toda a nossa criatividade à volta desse tema. Assim sendo, chegou a altura de mudar e o novo tema vai ser centrado na gente da nossa terra. Ou seja, a partir deste mês, o foco principal dos nossos clicks serão as pessoas e os seus retratos. E pode ser qualquer pessoa. Não tem de ser apenas uma pessoa, não tem de ser famoso, nem tem de ser totalmente desconhecido. Pode ser um amigo ou até um irmão. O que interessa é que seja uma ou várias pessoas que captem a nossa atenção, de alguma forma, aqui na zona onde vivemos. E hoje eu trago-vos a gente do Mercado do Bolhão.

O Mercado do Bolhão, na baixa do Porto, é dos locais mais icónicos da cidade. Actualmente, as instalações estão um bocado degradadas e a precisar de obras. Já há muito se fala de uma remodelação do mercado e de facto já se vêem uns andaimes lá pelo meio. Se de facto forem fazer uma remodelação sérias nas instalações, espero que tenham o cuidado de não retirar toda a essência daquele mercado. Sim, porque este mercado não é trendy nem feito a pensar em turistas (apesar agora andarem por lá às dezenas). O Bolhão é confuso, tosco e desarrumado. Tem toalhas a fazer de tapa sol e vendedoras a gritar. E é assim que deve ser, caso contrário deixa de ser o Bolhão.

Quando se colocou a hipótese de fotografar pessoas, lembrei-me logo do Bolhão, por causa deste seu ambiente tão característico. E tenho também uma ligação especial a este local porque a minha avó materna vendia lá flores. Por outro lado, toda a gente sabe que as vendedoras do Bolhão, na sua maioria, são senhoras super bem-dispostas. Perfeito para eu me iniciar nestas coisas de fotografar pessoas pela rua, a ver se ganho um pouco mais de lata. Assim sendo, lá fui eu com a minha companheira do costume, a Jiji.

Aponto a minha câmara a minha senhora que estava alegremente a vender a sua fruta e ela diz "MAS PEDIU AUTORIZAÇÃO PARA ME FOTOGRAFAR?". Pronto, Catarina corada a pedir desculpa. Ainda disse que era para um projecto e não sei quê, que lhe mandava as fotos se ela quisesse. Claro que estas pessoas estão-se a borrifar para isso. Mas ela disse-me logo "Olhe menina, são 500 euros para uma foto! Eu agora virei estrela, toda a gente me tira fotos". Afinal estava a brincar comigo, como seria de esperar.

Gelo quebrado, decidimos ir abordar uma das peixeiras que lá estavam. As peixeiras são o crème de la crème das vendedoras do Bolhão. São as mais faladoras, as mais despachadas e as mais divertidas. Abordamos uma delas à sorte e ganhamos o dia por isso. "Podemos tirar-lhe uma foto?", perguntei. "Claro que sim menina. E sabem com quem é que eu tenho uma fotografia, sabe? Com aquele cozinheiro famoso, ai como é que ele se chama? Não me lembro do nome. Até saí no jornal, vejam só! Vou-lhes mostrar!".

Procurou a dita fotografia e lá estava ela com o Bourdain, num recorte de jornal. "Bourdain, é isso! Meninas, sabem que ele veio aqui para conhecer as peixeiras do Bolhão? Ah pois." Lá lhe tirei uma fotografia, que por acaso não faz nada jus à sua sua alegria contagiante. Agradeci a disponibilidade dela, ao que ela ainda acrescentou "E se forem ao Instagram da Sara Carbonero. Sabem quem é não sabem, a mulher do Casillas? Também lá estou, que ela também tirou uma fotografia comigo." Aparentemente conhecemos a pessoa mais famosa daquele mercado. Ahah.

Depois encontrei também uma família (suponho que seja o pai e a filha), que costuma estar sempre lá na porta do Bolhão e que faz os encantos de por quem lá passa. O pai está sempre a tocar realejo, na companhia da miúda e rodeados pelos seus pássaros. Pelo que sei, são artistas de rua, sendo que o senhor já é filho de um artigo artista de rua e manteve a tradição de família. Opa, são encantadores.

Foi bom reviver todo este ambiente do Mercado do Bolhão. Acho que já não ia lá há 2 ou 3 anos e acho que já me tinha esquecido de muitos dos seus detalhes. E foi também uma forma de me relembrar da minha avó. Por alguns momentos, ainda consegui imaginá-la, de cesto na cabeça, a chegar ao Bolhão com as suas flores bem lindas, colhidas lá do nosso quintal em Valadares (onde cresci).

Espero que tenham gostado desta visita ao Bolhão ! Não se esqueçam de passar pelos blogues da minhas companheiras:

Jiji

Raining Days and Mondays

fashiONoir

Meek Sheep